domingo

"Capacidade é algo relativo. Mas como qualquer boa resposta vaga, esse seria apenas mais um argumento vazio, oco. Talvez fosse prudente analisar a mente do indivíduo que respondeu de tal maneira a uma simples pergunta. Provavelmente encontraria um cérebro tão grande quanto uma minhoca. Um pouco de sarcasmo, esperto? Não estou aqui fazendo discrepâncias entre cérebros, até porque seria comum um pouco de normalidade. Mas o que é ser normal? Poderia um louco ser. Apenas algum conceito, tão pouco fundamentado quanto aquela resposta vaga de início.Fim." Pousou a caneta na mesa e suas mãos se encontraram entre a sua cabeça baixa, pressionando-a. O relógio cantarolava em um tic-tac incansável, marcava agora 3:35 da manhã. Sua enxaqueca matava-o aos poucos, e a xícara com o café frio descansava na mesa de mármore de seu escritório. Era frustrado como escritor, mas o que seria mais simples que uma autobiografia de seu passado? Talvez assim conseguisse algum crédito entre os leitores. Essa seria a última tentativa. Fraco? Eu diria desmotivado. Sua mente o encontrou cochilando entre o amontoado de papéis e livros, e resolveu dar um tempo, desacordar junto a ele. Mas ela não parou, continuou com as engrenagens em pleno vapor, e algo foi surgindo em meio a correria de seus pensamentos. Mas como demonstrar a ele? Em meio a um sonho, é claro. Suas mãos se ergueram aos céus e ele se viu no meio da multidão, todos o aplaudindo pelo grande sucesso de lançamento de seu livro "Cem sentido com C". Talvez esse fosse o segredo, algo que intrigasse o leitor sem precisar dar explicações ou muitas respostas. Era isso, ele pensou. Sorriu ao povo e agradeceu os elogios, preparando-se para a sessão de autógrafos. Nada podia ser mais superfantástico que esse momento. Glória, fama e fortuna, era o que sempre sonhou. O que faltava era fazer da fantasia um fato. Ela resolveu que era hora de fazê-lo retornar ao mundo real. De um sobressalto suas pálpebras abriram e foi como se uma ideia tivesse brotado de seu cérebro enquanto dormia. Vasculhou rapidamente a procura de sua caneta, algo precisava ser escrito, modificado, urgente. Sua mão começou um movimento involuntário, parecia que alguma força a tinha possuído e agora estava dissipando-se na forma de palavras. Seus olhos giraram em órbita e seus sentidos voaram acelerados pela adrenalina. Continuava consciente, mas seu corpo não respondia a seus comandos. No seu interior estava assustado, muito assustado, mas ao mesmo tempo curioso pelas respostas. Finalmente a mão cessou e seus olhos voltaram a lhe obedecer. Suspirou profundamente antes de ler as palavras proféticas, optou por assim dizer. Entre as linhas pretas encardidas de seu caderno, as seguintes palavras repousavam sobre o papel "Fama e fortuna terás, mas não aguentarás o peso delas na pele, e padecerá". Ouviu uma batida na porta e cautelosamente foi checar. Uma fila imensa diante de sua porta clamava seu nome, queriam autógrafos de seu mais recente lançamento. Mas ele sabia o que fazer. Fechou as janelas e permaneceu silencioso na sua poltrona, enquanto a fama, a glória e a fortuna morriam, mas não com ele.        

3 comentários:

  1. Gostei muito desse. Prendeu bastante minha atenção. Coitado, depois de tanto tempo sem fazer nada bom, justo quando ele consegue algo de sucesso não pode desfrutar da fama...pelo menos ele foi espeto, preferiu viver. Muito legal!!!

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  2. Escrever é um ato ligado a alma então é sempre algo involuntário que as vezes passa percebido.Arte nos faz, não nós a fazemos.

    Beijo amor.

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  3. Seria você pensando na possibilidade de um futuro de escrita?

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Estudante de Administração de empresas, apaixonada por livros, cores e músicas. Começou no mundo literário escrevendo contos de suspense. Possui a arte como hobby. Desenhista, pintora, escritora e sonhadora.