domingo

“Hoje eu vim em busca de paz. Deserta pareceria ser a escuridão se não fosse a presença do sol. Nunca pensei em voltar a ver a parte desse meu mundo que há muito havia esquecido, mas memórias são a única coisa que ainda resta de alguém como eu, alguém que trocou tudo pela felicidade. Mas como a escuridão, apenas uma ilusão que me levou a caminhar nesse deserto ofuscado pelo sol.” Temia a noite como uma criança sofrida de um trauma, insegura, com as mãozinhas ao alto sendo sacolejadas pelo vento, na esperança de que este a levasse longe daquele lugar. Sentado, via a lua refletida na praia, sua doçura combinava com a melodia soprada pelas ondas do mar. O ar sereno da noite trazia um aroma marinho fresco, os cabelos sendo acariciados pelo vento se juntavam com as lembranças dele. Parecia tão significante ao lado daqueles minúsculos grãos de areia, como se fosse alguém importante, mas sorriu ao pensar que majestosos eram os grãos de areia, pois mesmo tão pequenos, formavam uma das joias mais preciosas do mundo. Acreditou que ao encontrar as respostas para as suas perguntas a felicidade estaria lhe esperando a postos, mas passaram-se 58 anos pela busca e até então o que encontrou no seu caminho foram mais e mais perguntas. A sua bagagem já estava carregada demais para que continuasse a enchê-la. Seus ombros não suportariam mais peso, bastava a sua barba comprida e cabelos brancos que juntavam qualquer resquício de idade pela estrada. Imaginou-se devaneando no oceano do seu passado, lentamente afogando-se nos próprios anseios e desejos de sua mente. Tornou a mirar o infinito azul a sua frente, as ondas cada vez mais altas por causa da maré noturna, sorrindo com o efeito do rum em suas veias, um pouco de ilusão mortal seria mais oportuna nesse momento. Sentiu o líquido correndo em suas veias, cada vez mais afetava os seus sentidos, e quando menos esperava se viu caminhando em direção ao mar. Mais fundo e mais fundo, a água batendo agora em seus joelhos, estava achando divertido. Levantou os braços aos céus como que pedindo piedade, mas continuou a caminhar. Suas vestes muito brancas encardiram-se com o sal e ele fascinou-se com a imagem da lua refletida na água. Com uma das mãos segurava a garrafa de rum e com a outra impulsionava seu corpo pra frente e pra trás, de modo a seguir o movimento das ondas. O repuxo começou forte e foi arrastando tudo o que via pela frente, seus pés cravaram na areia, mas ela também se desmanchou com a força da água, e ele foi descendo, descendo até que se viu submerso, seus olhos abertos ardendo, seu nariz a procura de ar, mas o que via apenas era um mar de fogo na sua frente. Chamas famintas corriam por todos os lados, mas ele estava a bordo de um barquinho que o protegia das fagulhas quentes. Abriu sua mão e encontrou duas moedas de prata, achou graça e sorriu. Onde estava? Só podia ser efeito da falta de oxigênio no cérebro. Mas não era. Avistou um velho cego a frente, sentado em um rochedo em meio ao mar de fogo. Ele parou seu barquinho e estendeu a mão como que cobrando sua passagem para o outro lado. Alcançou-o as moedas e o velho fez um sinal positivo com a cabeça, seu barquinho começando a velejar novamente. Uma luz ofuscou sua visão e se viu flutuando acima do mar de fogo, seu barquinho desaparecendo com o seu corpo, e continuou subindo na direção daquele manto branco.

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Estudante de Administração de empresas, apaixonada por livros, cores e músicas. Começou no mundo literário escrevendo contos de suspense. Possui a arte como hobby. Desenhista, pintora, escritora e sonhadora.