domingo

Os passos continuavam silenciosos, as sensações ao redor deles, o ar pesado da noite e a neblina os cercando. Os túmulos passavam por eles, a apreensão tomava conta de seus corpos, meramente carne e sangue. A natureza ria, gozando de sua fragilidade. O vento atravessava os ossos, contornando a pele, uivava, uivava, debochando da cara deles. Provocava a desordem, o descaso, tente, tente, ser inútil. Venha lentamente até mim, medo, medo? Não consegue me encontrar? Sinta, sinta, eu to perto. Olhos arregalados, atenção, não travem os pézinhos, coração acelerado? Tomaram conta do inconsciente, esquecidos no buraco negro de suas mentes, cavar? Enterraram mais fundo, sentindo as mãos ásperas de terra. Cheiro podre do pó da carne, as letras jaziam acima, o corpo estirado, perninhas dobradas? Há algo de estranho nesses olhos, não me olhe assim, eu fico tentada. Não passe a língua nesses dentes serrilhados, fico sem controle... misturar meu gosto com o teu? Tenho sede, sede, me deixe beber, beber... girando e cada vez mais fundo... em puro estado de transe, "acorde, acorde, acorde"... O frio percorreu seu corpo novamente, os túmulos a olhavam calados, instigando. Ele a encarava fixo, uma miragem? Seus olhos viam a carne branca dela, roupas rasgadas, imunda de terra e sangue. Do seu lado um buraco enorme cavado entre as árvores, o abismo. "Volta, volta"... ela mordia os lábios, sedenta. Venha até mim, curiosidade? Apontou o dedo para o fundo da terra. "Acorde, acorde..." ouvia estalos, poupe-me. Não me acha parte de seu pecado? Junte as partes, pedaço de mau caminho. A ilusão é sempre doce, quer acordar do sonho? Não, não. Arrastou os pés até ela com cautela, ao mesmo tempo que a euforia crescia. Isso, venha, venha... sorriso. Passos pesados, respiração profunda e os olhos estáticos nela, "não, não, não". Continuou, já não conhecia mais a sua face, a expressão se transformando, a fera bufava, os dentes mordendo a língua, sacia-me, sacia-me. Cheiro da carne, terra esfregando seus dedos, os buracos enterravam seus pés no chão. Anda, anda. Indo, indo, indo. Mais fundo, mais fundo. "Não vou conseguir fazê-lo retornar" indo, indo. O corpo balançou pra frente, uma vez pra trás, lá lá lá lá, ha ha ha, girando, girando, rindo, rindo, rindo. Mais uma vez pra frente, estava gostando da brincadeira, estendeu o braço, tão perto, tão perto. Agarrou o nada, ela ria debochando do outro lado, enquanto ele caia no abismo de sua mente. Plac, plac, estalos. Olhou ao redor, onde ela estava? A cabeça explodindo, pessoas ao redor, gritos. O corpo continuava deitado no chão, sede, sede. Os lábios e a boca sangrando, perninhas dobradas? A terra enterrando seus dedos, afundando, afundando. "1, 2, 3, plac, plac" o cheiro da carne, o ar lhe faltando, estou aqui, aqui. Só restou o braço pra fora, os dedos em desespero, me salve. Ela sentiu o sufoca dele, o rosto começava a arroxear, passos desequilibrados, braços esticados, arght, arght, garganta sufocava. Os olhos muito vermelhos escorriam lágrimas e seus joelhos desabaram na terra, sem força. "Que seja ao seu lado então". "Nãããããããão, volta, volta, volta, plac, plac, plac...".

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Estudante de Administração de empresas, apaixonada por livros, cores e músicas. Começou no mundo literário escrevendo contos de suspense. Possui a arte como hobby. Desenhista, pintora, escritora e sonhadora.