segunda-feira

Assumiu os riscos, surgiu coragem? A neve acariciava seu rosto, mas a frieza de seu ser era maior que a temperatura de sua pele. Duvidou da iniciativa, talvez um lapso de adrenalina. Seus olhos miraram a entrada da trilha, a mata densa de alguma forma o instigava. Os pés marcaram o gelo branco, juntando qualquer resquício de segurança a medida dos passos. Tarde demais para desistir. Adentrou a escuridão verde, esperando que seu coração calmasse a pulsar. Mas o fardo da culpa o motivava a continuar. Aproximou-se da clareira, a neve deixava o ar úmido de inverno ainda mais convidativo. Desenterrou da mochila a mesma pá que antes lhe tinha tirado o sono. Com punhos destemidos começou a cavar a procura da criança. O suor se misturava ao gelo derretido em seu corpo, a fúria aumentando e a profundidade do buraco também. Ossinhos frágeis mascaravam-se de terra. Havia passado tantos anos, mas o choro que agora escorria em seu rosto continuava com a mesma frequência. Mãos trêmulas foram juntando pedacinho por pedacinho e os colocando na bagagem, junto às lembranças dele. Suspirou profundamente, mas voltou a cair de joelhos no chão escorregadio. Tinha tentado, mas dar um funeral digno à criança não o faria abster-se da culpa. Desviou o olhar em direção a pá, sabia o que devia fazer. Uma tacada, duas, três... foi o suficiente. O sol brilhou entre as árvores e foi secando o sangue que havia pintado o gelo branco minutos antes.

Um comentário:

  1. Muito bom o início, só que vai ficando cada vez mais tenso...e no final, CREDO, que coisa mais macabra!

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Estudante de Administração de empresas, apaixonada por livros, cores e músicas. Começou no mundo literário escrevendo contos de suspense. Possui a arte como hobby. Desenhista, pintora, escritora e sonhadora.