segunda-feira

Chorava com o suor pelo corpo. Tremia e as lágrimas já pareciam doces à medida que suas pernas tentavam passos. Os pés varriam o sangue do chão, mas o peso da alma era maior que o peso que seus joelhos carregavam. Como vim parar aqui? Os olhos estavam vendados pela culpa, as cenas repassavam o que ela não queria mais ver. Ser humano frágil. As mãos abertas em feridas transpareciam a carne articulando os ossos, enquanto ela ria. Tinha valido a pena? Sim, sim. "Ha, ha, ha". Apodrecendo em meio as vestes encardidas, seu corpo se esvaía, mas sua alma não podia dissipar-se. Ela sorria vendo o rostinho do menino deitado, tão pequenino. "Ha, ha, ha". Não sabia se sua risada soava mais alto que a dor de suas feridas. Apenas um disfarce. Mas ele respirava tão profundo, tranqüilo no seu sono inocente. Melhor não acordar. A mão putrefa dela balançava o bercinho, nhec, nhec. Tinha feito justiça com as próprias mãos, agora ele era dela, só dela. A sensação de posse invadia seu corpo frágil, e o menino sorria com o doce sonho, a pele branquinha. Os olhos injetados de sangue estavam com um pingo de piedade. Queria tanto aquele garotinho. Estendeu seus braços, e com o pouco de força que ainda restava, segurou a criança em seu colo. A roupinha muito branca enxarcou com o sangue dela, e ele abriu a boca num choro imaculado. Lentamente ela voltou a sentir as lágrimas escorrendo no seu rosto, o coração batendo fraco, respiração quase interrompida. O bebê chorava alto enquanto ela padecia com seu filho nos braços.

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Estudante de Administração de empresas, apaixonada por livros, cores e músicas. Começou no mundo literário escrevendo contos de suspense. Possui a arte como hobby. Desenhista, pintora, escritora e sonhadora.